quinta-feira, 15 de julho de 2010

O ELO DAS MÁSCARAS


Lembro de tudo nitidamente. Eu via seres de luz carregando lixo da floresta para dentro de uma caminhonete. Muito seres, muito lixo. Então perguntei para um deles:
- O que é isso?
-Um dos seres me respondeu:
- São as suas máscaras, você não pode ver ainda.”
O texto descrito acima trata-se de um depoimento de quem fez uso ritualístico-religioso, de uma substância denominada “Ayahuasca.” Popularmente conhecida como “Santo Daime.” Segundo os lideres desta seita, a utilização desta bebida, a “Ayahuasca servirá na manutenção de um “elo imaterial com o divino.” Seu cerimonial segundo os lideres da seita sincrética, são comparados aos rituais sagrados de algumas religiões, como por exemplo, a do vinho Sacramental na Eucaristia. As matérias primas desta bebida são de plantas exclusivas das florestas tropicais dos países amazônicos. Não quero tecer comentário sem que antes possamos expor, fundamentos científicos para não corre o risco de nos posicionarmos injustamente, como também não deixarmos a impressão que somos os donos da verdade. Os nomes abaixo mencionados vem juntamente com a Associação Brasileira de Psiquiatrias  corroborar com pareceres técnicos com dados disponibilizado na web.
*Jaime Hallak, professor do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto (FMUSP-RP) e Luís Fernando Tófoli, médico psiquiatra e professor adjunto de Psiquiatria da Universidade Federal do Ceará (Ufce).
“O que é - A bebida é obtida através da combinação da planta Banisteriópsis caapi (ariri) e outras ervas que são maceradas ou aferventadas, como a Psicotrina viriduis (chacrona ou rainha) Como funciona - A atividade farmacológica da guascaria é única, pois depende da interação das substâncias contidas nas plantas. A B. caapi contém os alcalóides harmina, tetra-hidro-harmina (THH) e, em menor quantidade, harmalina. A P. viriduis, por sua vez, fornece a triptamina alucinógena de ação ultra-rápido, a N-dimetil triptamina (DMT). A modulação da DMT é promovida pelos efeitos ativos da B. caapi). E essas substâncias têm como função mais conhecida bloquear a enzima monoaminoxidase (MAO), permitindo que o DMT seja absorvido pelo sistema digestivo. Como elas são psicoativas, possuem efeito sedativo semelhante ao carmano (também conhecido como passiflorina, alcalóide presente em uma outra trepadeira da família do B. caapi, o maracujá)
Efeitos - O consumidor do chá pode vivenciar percepções sensoriais sem estímulos externos. Na maioria das vezes, a pessoa permanece consciente de que está sob efeito da guascaria, e mantém controle de suas ações. Indivíduos que fazem uso da bebida regularmente descrevem capacidade de maior compreensão de aspectos espirituais de sua própria vida
Tempo de ação - o consumo de 100ml da bebida requer 30 minutos para entrar na corrente sanguínea e atuar sobre o cérebro. Esse efeito pode durar até quatro horas. Já a sensação de bem-estar e tranqüilidade costuma se prolongar, segundo usuários.”
Faço uso neste momento da minha condição de teólogo, despido de qualquer preconceito religioso, para fazer a seguinte afirmação: A religião adoece as pessoas! E em seu efeito dopante, existe uma linha tênue entre o bem e o mal. Esse dualismo fica evidente, quando utilizamos determinados mecanismos, como extensão de nossos sentidos. Uma vez para justificar a nossa miserabilidade, a outra por uma escancarada inoperância em gerir nossa própria consciência. Abrimos mão de nós, e nomeamos as instituições como autora e consumadora de nossa fé. Com uma extrema habilidade neurolingüística, somos induzidos a sensações que nunca antes experimentamos, ora, admitimos uma satisfação imensurável, ora, em uma estado de tensão desagradável, de angustia e desespero, sublimado muitas vezes pela falácia religiosa. Os fatos que nos leva a crer naquilo que temos por verdade absoluta, nada mais é que um processo subliminar, algo sutilmente inserido por meio de um contexto lingüístico. Após um longo exercício de reflexão antropológica, percebo o ser humano submergido em suas indagações religiosas, por ser ela uma fantasia arquetípica comum a toda humanidade, e é possível considerá-las como exclusivas de pessoas neuróticas ou psicótica, encontrada em tão grande variedade pelo mundo inteiro. Contudo, como faceta oposta ao realismo se estabelece uma relação recíproca de dependência, não obstante, ficam satisfeitos em fingir para si construindo uma linguagem espiritualizada, com uma firme convicção de uma consciência ampliada. A divergência entre a fantasia e a realidade pode ser vista com bastante, clareza se examinarmos atentamente os mitos e contos de fada com os quais fazem parte na elaboração do psiquismo religioso. A religião é a droga mais potente que qualquer substância psicoativa. O indivíduo passa a depender, por obra de modificação psíquica e fisiológica, do elemento da satisfação, e exigem administração regular ou contínua da droga para produzir prazer ou evitar mal-estar.
Pode parecer um paradoxo essas palavras ditas da boca de um teólogo, mais crer na existência de um Deus verdadeiro, e cultuá-lo, não significa ser objeto manipulável de seguimentos que cujo estrutura estar comprometida com a insanidade. Como posso cultuar um ser racional me portando irracionalmente? Mais essa estrutura não se estabelece só, muitas vezes dependerá da ação conjugadas de fatores; tolerância e dependência são os fenômenos que define o processo. Uma psicologia de submissão é instaurada, a mesma intolerância ao real encontra-se nas bases do ato dependente, o cenário desta moldura é um mundo alienados, de pessoas imersas, enredadas em teias abstratas dissociadas e dispersas de circunstâncias concretas. Preciso desta droga pra me salvar, preciso permanecer drogado para suporta o mundo conturbado que existe lá fora. A religião é o todo universo para si próprio, e o que escapa do sentido de transfiguração ganha overdose de insignificância. São, em síntese, estrutura narcisista e dolente, se alimentando de patologias simbióticas.
Não quero ser aqui portador de má noticias, afinal de contas, com que direito pretendemos impor nossos critérios de vida aos outros? É necessário compreender que, a pesar de todos os preconceitos e todas lendas, que por vezes foram massificada, de maneira a lavar o cérebro da percepções de realidade. É possível resgatar o dependente, e ajudá-lo a curar-se de sua anomalia; aferindo lhe regras básicas, do mestre dos mestres aos religiosos de sua época: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”J. 8.32
Esse é um espaço destinado ao debate, e não tem como objetivo promover a intolerância, muito menos servir de instrumento para um apartheid religioso. Fiquem ciente que qualquer religião que se sinta atingido em seus princípios, terá espaço neste blog para a replica, e certos que publicaremos na integra as suas contestações.
Mais quero deixa como registro que a discussão acerca da ingestão da bebida “ayahuasca” mesmo em contexto ritualístico-religioso. Estar calcada na polêmica do assassinato do cartunista Glauco Villas Boas e do seu filho Raoni. Vitimados por um membro da seita, em que o cartunista Glauco, seria o líder e fundador. A prática religiosa se dava nos mesmos moldes daquela que tem pautados os seus princípios pelo uso da bebida. Segundo informações vinculadas pela mídia, este rapaz de vinte e quatro anos, tinha um sério desequilíbrio psico-social e um quadro elevado de dependência química, transtorno psíquico, esquizofrenia.
Relatamos no inicio deste artigo que a utilização da “ayahuasca” seria semelhante aquela cerimônia do vinho sacramental eucarístico, mais a diferença se instala, quando constatamos que o vinho é degustado apenas pelo sacerdote. E as igrejas reformadas faz uso do suco da uva não fermentado. Isso sem dizer que tais substâncias são meros simbolismo, ao contrario da utilização da “ayahuasca.” Veja! O que diz um dos defensores: “A ayahuasca é a religião da terra para o céu, da matéria eterna para o infinito do sonho humano, a religião natural. Uma verdadeira e única religião do Brasil, aliás, uma colossal e genuína religião amazônica e indígena. A ayahuasca era essência espiritual dessa convivência material fraterna entre as árvores carinhosas, os riachos irmãos, os pássaros cantores, os peixes, as larvas, os insetos, as flores. A ayahuasca ancestral era o elo entre a terra e o espírito. Se não fosse uma erva espiritual e mágica, trazida pelas mãos milenar dos povos indígenas amazônicos, ela não teria resistido ao tempo. Por isso é natural que a ayahuasca atraia cada vez mais o homem branco, esmagado pelo destrutivo modo de vida urbana, elitista, ocidental, capitalista.”
O suco de uva é de uso simbólico, nele não se alcança qualquer êxtase, magnetismo espiritual. Nós pessoas humanas buscamos subterfúgios para ludibriar, e tentar enganar a nós mesmo, e após tantas tentativas a mentira ganha aspecto de verdade que não conseguimos mais dissociar a mentira da verdade, a realidade da fantasia. Os sentidos ficam tão aguçados que ignoramos qualquer possibilidade de frustração, assim continuamos buscando prazer mesmo naquilo que mascara o sentido da vida, talvez seja essa a diferença do suco de uva não se traduzir em objeto de atração.
A bem da verdade é que a ciência sabe muito pouco do “santo daime”, em razão de não haver um estudo sistematizado. O governo brasileiro em janeiro de 2010 estabeleceu regras para seu uso, apenas em cerimônias religiosas. A Associação Brasileira de Psiquiatria disponibilizou em seu site estudo referente aos efeitos psíquico da bebida.
** “Os efeitos psíquicos mais freqüentemente relatados são:
·         - alterações no processo de pensamento, concentração, atenção, memória e julgamento;
·         Alteração na percepção da passagem do tempo;
·         Medo de perda do controle e do contato com a realidade;
·         Alterações na expressão emocional variando do êxtase ao desespero;
·         Mudanças na percepção corporal;
·         Alterações perceptuais atingindo vários sentidos, onde alucinações e sinestesias são comuns;
·         Mudanças no significado de experiências anteriores - “insights”;
·         Sensação de inefabilidade;
·         Sentimentos de rejuvenescimento;
·         Hiper sugestionabilidade;
·         Sensação da “alma se desprendendo do corpo“;
·         Sensação de contato com locais e seres sobrenaturais.
Como é descrito para muitas outras substâncias psicoativas, e em especial para os alucinógenos, a experiência de usar Ayahuasca é influenciada pelas expectativas do indivíduo, setting, experiências prévias.
Os principais efeitos físicos relacionados ao uso da Ayahuasca são náuseas, vômitos e diarréia. Também incluem: aumentos leves da pressão arterial, dos batimentos cardíacos e incoordenação motora. Após o uso de grandes doses há relato de que os usuários tornam-se frenéticos e agitados por dez a quinze minutos aproximadamente. No entanto, é mais comum manifestarem prostração e sonolência. Há referência ainda à audição de zumbidos, formigamento de extremidades, sudorese e tremores (Schultes, 1980).
Considerando a complexidade da ação destas substâncias, o pequeno número de estudos metodologicamente adequados, com amostras não representativas, e sem seguimento longitudinal de usuários, tendo em vista algumas evidências quanto ao desenvolvimento de tolerância com o uso crônico e alterações de consciência com o uso agudo, pode-se concluir que não existe uso seguro destas substâncias psicoativas, e que elas podem interagir com outras substâncias provocando intoxicações graves.”
                                  DOMINGOS BERNARDO GIALLUISI DA SILVA SÁ
                                                     Presidente do Grupo de Trabalho

Eis ai um elo perigoso, são as máscaras oculta, disfarçadas de santidade e pureza, uma faceta da mente humana. Que se utiliza da criatura, para alcançar o criador, não precisamos de uma chá para nos mostrar qual seja o caminho divino. O elo divino não necessita de máscaras forjada no bojo das vaidades humanas, que não tem a compreensão de si. Como então poderá ditar normas espirituais a seus semelhantes? A nós basta ser um com Deus, sem hipocrisia, sem medo de se desnudar-se diante de suas maravilhas, de seus propósitos. Não é preciso criar pra si deuses, que com gestos de auto-suficiências podemos manipular, ordenando-lo que se cale ou que se pronuncie, sempre a mercê de minha vontade e do meu querer. Miserável é o homem que tem pra si o deus da religião e que se utiliza da natureza pra conhecer a natureza do Deus verdadeiro. Miserável é o homem, que não consegue beber em suas palavras a simplicidade de servi-lo e de deixar- se por ele ser conduzido. Interferindo desde os primórdios no equilíbrio e na sensatez do universo, como raças de víboras á destila seu veneno de perdição. Misericórdia lhe rogo Deus dos deuses, para que naquele dia os ingênuos de coração sejam salvos, e assim possam contemplar a face do eterno.
*Veículo:Uol
Seção:CiênciasSaúde
Data:26/04/2010
Estado: Nacional
** Associação Brasileira de Psiquiatrias


1 comentários:

Fernanda disse...

Parabéns pelo texto exposto.
Pelos cuidados em suas pesquizas em um assunto tão complexo,não deixando de expor seus pensamentos.
Valeu!!

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