sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Homofóbico... Eu?


"Que a educação dos jovens nos dia de hoje lhes oculta o papel que a sexualidade desempenhará em suas vidas, não constitui a única censura que somos obrigados a fazer contra ela. Seu outro pecado é não prepará-lo para a agressividade da qual se acham destinados a ser tornarem objetos. Ao encaminhar os jovens para vida com essa falsa orientação psicológica, a educação se comporta como se devesse equipar pessoas que partem para expedição polar com traje de verão e mapas dos lagos italianos. Torna-se evidente, nesse fato, que se estar fazendo um certo mal uso das exigências éticas. A rigidez dessas exigências não causaria tanto prejuízo se a educação dissesse: “É assim que os homens deveriam ser para serem felizes, mas terão de levar em conta que eles não são assim”. Pelo contrário, os jovens são levados a acreditar que todos os outros são virtuosos. É nisso que se baseia a exigência de que também os jovens sejam virtuosos".
Sigmund Freud

Deduzo eu, que Sigmund Freud, jamais julgou em algum momento que seu tratado psicanalítico, pudesse servir para justificar atitudes ou mesmo de argumentos, em defesa de interesses de indivíduos homossexuais. Ele que por sua vez, postulou essa questão, como resultado da relação estabelecida com os pais e, portanto, passível de “cura”, que sempre julgou ser possível a “conversão” de homossexuais, em heterossexuais. Ver a aplicação de seus escritos, usados indevidamente fora de contexto, como manipulação argumentativa, em embate político – pedagógico, com intuito de fomentar o comportamento homossexual no âmbito escolar.
A análise da produção discursiva dos grupos homossexuais tem um caráter impositivo e não trafega no campo das ideais. Problematizando a homossexualidade e educação escolar. Não é atribuição docente plasmar aos seus alunos uma identidade sexual, mas apontar caminho para um debate salutar, onde todos tenham voz, tenham vez. Tendo como força impulsionadora, conjunto de outras aptidões; esclarecer como as ciências humanas lidam nas questões interpessoais. A tarefa de rotular e classificar as pessoas como diferente ficam a critério dos conceitos humanos, não é uma especificidade da gestão escolar.
Tais grupos como em um espelho narcisista contempla suas virtudes e visam privilégios por intermédio de leis especificas, negando ao diferente o direito de se posicionar. E os que se posiciona contrariamente são taxados por doentes; fobia (medo mórbido; aversão), quando na verdade neles, é que se instala o conflito, querendo impor por força de lei, suas condições, pelo fato de não se verem como iguais. Nisto se faz diferentes, quando essa parcela da sociedade, se julgam no direito de ter privilégio da lei.
A lei que puni a agressão ao homossexual é mesma que puni o agressor da mulher, do negro, do nordestino. E se a punição não acontece aos rigores da lei, me junto aos grupos homossexuais para fazer prevalecer os seus direitos de cidadão. Isso sim é ser igual, (homo), ao contrario da reivindicação de privilegio.
Homofóbico... Eu? Que sou oriundo da negritude deste país, que por conta de tudo isso, pela exclusão social, pelo serviço escravo de meus antepassados, nunca exigiu ser amado por ser negro! Mas que exigiu e exigi ser respeitado como cidadão deste país. Lutei e luto de forma digna, para que todos tenham direitos e possam ser vistos, em toda sua essência e brasilidade.
Homofóbico... Eu? Que mesmo nascido e criado em uma vila militar, por ser filho de militar; na mais tenra idade lutou contra o regime ditatorial que assolava nossas almas. Que muitas vezes desfilou em passeatas gritando palavras de ordem, engrossando o coro de musica de protesto, contra o regime, em pleno Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, vigilante e receoso das forças policiais militares. Que foi para as ruas, de maneira ordeira e pacifica reivindicar o repatriamento de nossos brasileiros no exílio, com gritos a favor de uma anistia, Ampla, geral e irrestrita. Quando um palanque era montado, lá estava eu, revigorado em meu idealismo.
Irmanados em um mesmo propósito e pelo voto democrático elegemos o presidente, após o golpe de 1964. E em um clamor popular destituímos o presidente, na ação mais democrática da história deste país. Minha cara enrugada deu vez a uma cara pintada, do qual me sinto orgulhoso por ter podido contribuir na construção da cidadania.   
Homofóbico... Eu? A onde estavam os grupos homossexuais, quando o país passava por essas transformações? Quais foram os engajamentos sociais, destes grupos? Ter direitos significa também, ter
responsabilidade. Reivindicar direitos não é necessariamente ter uma causa, não é somente fica olhando para o umbigo se achando lindo e maravilhoso. Enquanto vemos a organização de passeatas, com demonstração de orgulho Gay, como forma legitima de direito ao respeito e a dignidade, se transformar em um atentado violento ao pudor, incentivo a promiscuidade, desacato, aliciamento... Entendo que nossos irmãos homossexuais, queiram ser vistos como tais e, que pelas suas óticas prevalecem arraigados preconceitos. Mas na verdade, o que a eles passam despercebido, é que seu reconhecimento, é de cidadão; sendo comum a todos. A sobrevivência do conceito, mesmo com todas suas evidentes contradições, trata-se da manutenção e sobrevivência da humanidade. Querer motivar o comportamento homossexual no âmbito escolar, mesmo que seja em mensagem subliminar, pode impor conceito e, esse não é papel da escola. Haja! Visto o ocorrido na Alemanha, quando Hitler com seu discurso fascista alcança a escola, ai se estabeleceu o caos. Famílias são desagregadas, pais se voltaram contra filhos, filhos condenaram pais e os entrega a mão forte do nazismo. Escola é pluralidade, ela não pode ser instrumento de manipulação de determinados seguimentos, é aonde as crianças chegam com a sua leitura de mundo e, sai homens capazes de reescrevê-lo. 



quinta-feira, 5 de julho de 2012

Reflexão do Cotidiano




Primeiramente deverão saber que os impuros não poderão me tocar sem luvas, somente os castos ou os que perderam suas castidades após o casamento e não se envolveram em adultério poderão me tocar sem usar luvas, ou seja, nenhum fornicador ou adúltero poderá ter um contato direto comigo, nem nada que seja impuro poderá tocar em meu sangue, nenhum impuro pode ter contato direto com um virgem sem sua permissão, os que cuidarem de meu sepultamento deverão retirar toda a minha vestimenta, me banhar, me secar e me envolver totalmente despido em um lençol branco que está neste prédio, em uma bolsa que deixei na primeira sala do primeiro andar, após me envolverem neste lençol poderão me colocar em meu caixão. Se possível, quero ser sepultado ao lado da sepultura onde minha mãe dorme. Minha mãe se chama Dicéa Menezes de Oliveira e está sepultada no cemitério Murundu. Preciso de visita de um fiel seguidor de Deus em minha sepultura pelo menos uma vez, preciso que ele ore diante de minha sepultura pedindo o perdão de Deus pelo o que eu fiz rogando para que na sua vinda Jesus me desperte do sono da morte para a vida eterna.” “Eu deixei uma casa em Sepetiba da qual nenhum familiar precisa, existem instituições pobres, financiadas por pessoas generosas que cuidam de animais abandonados, eu quero que esse espaço onde eu passei meus últimos meses seja doado a uma dessas instituições, pois os animais são seres muito desprezados e precisam muito mais de proteção e carinho do que os seres humanos que possuem a vantagem de poder se comunicar, trabalhar para se alimentarem, por isso, os que se apropriarem de minha casa, eu peço, por favor, que tenham bom senso e cumpram o meu pedido, por cumprindo o meu pedido, automaticamente estarão cumprindo a vontade dos pais que desejavam passar esse imóvel para meu nome e todos sabem disso, senão cumprirem meu pedido, automaticamente estarão desrespeitando a vontade dos pais, o que prova que vocês não tem nenhuma consideração pelos nossos pais que já dormem, eu acredito que todos vocês tenham alguma consideração pelos nossos pais, provem isso fazendo o que eu pedi.”

Fonte: www.g1.com.br

Este texto é de uma carta deixada por Wellington Menezes de Oliveira, que vitimou 12 crianças em uma escola municipal no Rio de Janeiro.
E eu em um surto antropológico, tento decifra o indecifrável, caminhando no contexto deste texto desconexo, sem, contudo julgar o ato insano. Hoje um tanto mais maduro e capaz de avaliar sem compromete-me emocionalmente. Chego a questionar, até onde vai a nossa capacidade de adoecer as pessoas? Ou até onde alcançamos resistência pra não nos deixar adoecer? No mundo onde os valores, estão invertidos, a intolerância desafia ao bom senso e o desprezo pela dor do outro, são meros percalços de um cotidiano decadente. Onde debilidade social degenera os bons costumes, valorizando a forma ao invés do conteúdo.
Como encontrar equilíbrio? Quando o comportamento monstruoso encontra apoio de pais omissos, permissivos, entregue aos caprichos daqueles aquém deveria exercer autoridade. Filhos tiranos, saboreando o poder na mais tenra idade, sendo cruéis e mesmo malignos com aqueles aquém deveriam se submeter-se.
Em meio à bagunça organizada, invertemos papeis, quando o Estado retira do cidadão o pátrio poder, devolvendo-o, quando este por força de lei deve cumprir a pena do menor infrator. Reféns do medo, da violência, inventamos um novo adolescente, competitivo patológico, sem limites e de crueldade extremada. Extravasando sua ira, destilando seu veneno para dentro do muro da escola. Déspotas uniformizados, implacável com aquele que é diferente e que não comunga dos mesmos interesses.
A evolução é a ordem natural das coisas, mas precisamos ficar atentos, quanto aos monstros que por hora alimentamos, com doses gigantescas de impunidade.
Às vezes me questiono, onde foi parar os meus heróis de infância? Eram íntegros, honestos, se a semelhando a figura de meu pai. Que quando me administrava uma punição, era apenas um recurso pedagógico. Onde encontrar equilíbrio? De tão sedento de heróis, condecoramos o policial no comprimento, no exercício do dever. Era pra ser louvável se não fosse raros as atitudes dos policiais, por isso o ato descomunal desperta complexidade, por saber que deveria ser corriqueira e, não fato isolado da instituição que tem tanto a oferecer.
Hoje em um mundo onde não há heróis, que a violência descabida pode ser confundida como ato nobre. Vejo o vilão assumir o papel do mocinho, e sendo ovacionado por uma torcida organizada, que como regra evolucionista, são os mais forte sobrepujando a fraqueza do “inferior”, que desesperados e sozinhos, emocionalmente abalados adoecem. Assim quando um grito no silêncio ecoa, contra o seu torturador. E eles não têm cara! São todos! E até algozes de si mesmo na tentativa de amenizar a dor.
O bullying faz de todos nós vítimas, faz de todos nós passageiros do medo, não tem quem nos salve do ressoar do grito do silêncio. Surgi do nada como serpente, astuta e, sem balbuciar palavras, nos desperta á imagem de terror. Convicto do bem que fizera, repousa justificada. E em sua psique desfigurada, o gesto encontra respaldo; não importa o numero de covas. Triste caminhar da humanidade! De sentimentos plasmados no curral da superfície, não tem trilha, só medo! Não tem jeito, tem morte. 

 


sábado, 6 de agosto de 2011

ENTREVISTA


 
      Marcia Souza
Pedagoga Petrópolis RJ
        Junho 2011
                                       Além do muro da escola
O mundo humano não é espetáculo de inteligência pura, nem modelagem de ação cega: É obra de mãos inteligente”.  (Ernani Maria Fiori)

1-Ciência e Religião - Segundo Piaget a multidisciplinaridade ocorre quando “A solução de um problema torna necessário obter informação de duas ou mais ciências ou setores do conhecimento sem que as disciplinas envolvidas no processo sejam elas mesmas modificadas ou enriquecidas”. (The epistemology of interdisciplinary relations hips). Como à senhora ver essa fragmentação na construção do saber?
Marcia Souza: O contexto histórico vivido nessa virada de milênio, caracterizado pela divisão do trabalho intelectual, fragmentação do conhecimento e pela excessiva predominância das especializações, demanda a retomada do antigo conceito de interdisciplinaridade que no longo percurso desse século foi sufocado pela racionalidade da revolução industrial.
A necessidade de romper com a tendência fragmentadora e desarticulada do processo do conhecimento justificam-se pela compreensão da importância da interação e transformação recíproca entre a diferente área do saber. Essa compreensão crítica colabora para superação da divisão do pensamento e do conhecimento, que vem colocando a pesquisa e o ensino como um processo reprodutor do saber parcelado que conseqüentemente muito tem refletido na profissionalização, nas relações de trabalho, no fortalecimento da predominância reprodutivista e na desvinculação do conhecimento do projeto global de sociedade.
Para tal, devemos compreender o que Piaget nos apresenta como desenvolvimento intelectual. É como um processo que ocorre durante toda vida e que é concebido em seu aspecto biológico, cognitivos, afetivos e sociais, como um todo, por meio de fase que inter-relacionam e se sucedem até que atinjam estágios da inteligência caracterizados por maior mobilidade e estabilidade, num processo progressivo de adaptação do homem ao meio: assimilação/acomodação e superação constante, em direção a novas estruturas.
Analisando o processo de desenvolvimento mental da criança, Piaget afirma que a inteligência e a afetividade são indissociáveis. A afetividade intervém nas operações da inteligência, estimulando-as ou perturbando-as, podendo comprometer o desenvolvimento intelectual. Os mecanismos afetivos e cognitivos sempre indissociáveis, embora distintos, na medida em que os primeiros depende de uma energética e os segundo, de estruturas.
O processo educacional tem um papel importante ao provocar situações que seja desequilibradoras para o aluno, adequada ao seu desenvolvimento mental, permitindo-lhe a construção progressiva de seus conhecimentos, ao mesmo tempo em que vive intensamente, intelectual e afetivamente, cada etapa de seu desenvolvimento.
O ensino fundamental na teoria piagetiana é baseado na pesquisa, na investigação, na solução do problema por parte do aluno, favorecendo o exercício operacional da inteligência e a elaboração de seus conhecimentos. Nessa proposta cabe ao professor criar situações de aprendizagem, respeitando as características de desenvolvimento do aluno, orientado-o na busca de sua autonomia e realização.
Ainda completo minha resposta com o seguinte: “A maneira como compreendemos, agimos e nos relacionamos no e com o meio está inevitavelmente ligada ao conjunto de valores da sociedade a que pertencemos” (IMENES: 2003), ou seja, tem como suporte, como pensamos o mundo e como construímos o conhecimento.

2-Ciência e Religião - A Compartimentação não tende a frustrar a especialização e acirrar conflitos em outras áreas do conhecimento?
Marcia Souza: A construção do conhecimento inclui várias etapas culminando com o “saber o quê, saber como, saber por que, saber para quê”. Ao obter respostas a essas etapas do saber se estabelece elos necessários para o fio condutor do conhecimento, em relação ao processo de ensino. Ao estabelecer elos, o sujeito em ação garante momentos construídos de forma dinâmica e global dentro de um processo de pensamento, apossando-se do significado da realidade concreta e mobilizando-se para o processo pessoal de aprendizagem.
Partindo deste princípio, o conhecimento para se estruturar, se estabelece e gera novas conquistas, necessita de vários campos/ciências.

3- Ciência e Religião – Segundo Paulo Freire “Antes de mais nada é importante vincar a impossibilidade duma educação neutra, porque dum modo geral e para uma consciência ingênua, isto não é nada óbvio. Todavia, na verdade a neutralidade na educação é impossível, como impossível é, por exemplo, a neutralidade na ciência. Isto quer dizer que não importa se como educadores somos ou não conscientes, a nossa atividade se desenvolve-se ou para a libertação dos homens-, a sua humanização-, ou para sua domesticação”. (Uma educação para a libertação). Freire faz menção, quanto à neutralidade das tendências pedagógicas, qual sua opinião?
Marcia Souza: De uma entrevista dada a Valter Machado Fonseca, destaquei o seguinte: Freire combateu intensamente, o sectarismo, pois ele castra a criatividade, defende a verdade absoluta, acredita nas coisas acabadas, prontas, definitivas. “O sectário só pode enxergar duas cores: o branco e o preto” são incapazes de perceber o restante das cores que compõem o espectro do arco íris. Com a mesma intensidade que combatia o sectarismo, defendia o radicalismo. Para ele “radical” fugia aquilo que os falsos profetas e charlatães preconizavam: aqueles que não se deixam mudar, que não se deixam convencer, que mesmo equivocados permanecem no erro. Pelo contrário, entendia o radicalismo em toda extensão da palavra, ou seja, o que vem de raiz, que mantém suas origens, que defendem seu ponto de vista, mas, dispostos a mudar desde que convencidos. Este era Paulo Freire, um homem comprometido com um ideal, com a militância, com a luta transformadora. Comprometido com a vida, porque acreditava no ser humano, na sua capacidade de transformação, de aprendizagem. Acreditava no papel fundamental da educação, enquanto instrumento de transformação social e construção de outro modelo de sociedade, onde o homem pudesse recuperar sua dignidade.

4-Ciência e Religião - Com os problemas recorrentes na educação no Brasil, a senhora é a favor da utilização de um modelo educacional de outro país? Como, por exemplo, o de Cuba. Apontado pela UNESCO, como sendo os resultados muitos superiores aos demais estudantes da América Latina.
Marcia Souza: O nosso Sistema Educacional é muito bom. Não sou a favor da adoção de modelos de outros países. Temos muitos fatores que interferem em nosso Sistema Educacional, como fatores ligados à nossa história, cultura, economia, diferenças regionais e aspectos geográficos. Mais sempre se procurou utilizar a Educação como viabilização de conteúdos que promovessem os indivíduos. Só que temos muitas realidades dentro de um mesmo país, que se democratiza a cada dia e procura lutar contra a exclusão social, pobreza, a violência e a corrupção. Termino aqui citando parte das palavras de Saviani: “A educação depende da estrutura política e esta também depende do contexto global no qual está inserida. Dessa forma, “Desde que o homem é homem ele vive em sociedade e se desenvolve pela mediação da educação”.

5-Ciência e Religião - A senhora concorda que deveria haver menos filosofia nos cursos de preparação de docentes, e mais técnicas de didática e aprofundamento nos conteúdos que devem ser ensinado?
Marcia Souza: Sim. Porém necessitamos da base teórica para a compreensão da prática. Uma boa prática provém de elementos teóricos bem elaborados, consciência crítica, participação política e compromisso. Para completar, cito palavras de Anísio Teixeira: “O magistério constitui uma das profissões em que a formação nunca se encerra, devendo o professor, terminando o curso regular, continuar pela prática e tirocínio o seu desenvolvimento... Hoje, além dessa prática e desse tirocínio... procura-se dar ao professor estágios, cursos e seminários destinados a apressar e sistematizar as conquistas que somente uma muita longa prática, e aos mais capazes, poderia dar. É o chamado “training in service”, educação no cargo em expansão em todas as profissões de natureza, simultaneamente cientifica e artística”. (TEIXEIRA, Anísio. Curso, estágio e seminário para formação do professor. Entrevista. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 20 abr. 1958).
6-Ciência e Religião - No Brasil cada escola ensina o que julga mais importante, na série e no momento que entender oportuno. Seria viável ao Brasil, um guia curricular sistematizado para todos os Estados.
Marcia Souza: Termos vários países dentro de um imenso país, várias formações culturais, influências, realidades e necessidades. Apesar de geograficamente sermos únicos, não há unidade sem partes formadoras.
A legalidade é respeitada no direito de todos e no respeito à individualidade, cada Estado adapta a legalidade às suas necessidades.
Citando Darcy Ribeiro: “Nós, brasileiros, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos viveu por séculos sem consciência de si... Assim foi até se definir como uma nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros...”

7-Ciência e Religião - Onde consiste a contribuição de Freire, Fiori e Dussel para construção de uma pedagogia libertadora?
Marcia Souza: O importante para a Pedagogia Libertadora é os estudantes consigam perceber o conhecimento de forma crítica e participativa. Para isso, se aconselha os professores, no inicio do curso, conhecer as histórias de vida e os contextos sociais dos seus alunos. O professor libertador deve estar aberto a aprender com as experiências dos alunos e é interessante que formule parte de seu currículo baseado nestas informações. Independente da disciplina que for ministrar, um professor libertador deve entender o contexto social do ensino e o histórico da sociedade e do mundo ocidental em que vivemos para que possa esclarecer para os alunos e para ele mesmo onde estão e o que estão querendo fazer ali.
Uma das principais propostas da Educação Libertadora é o ensino pesquisa. Através da pesquisa social os alunos podem perceber que o conhecimento também pode e deve ser produzido por eles em sala de aula. Uma tarefa deste tipo de educação é fazer com que os alunos e professores percebam que podem ser mais que meros receptores de teorias prontas e enlatadas. A criatividade e capacidade crítica dos sujeitos em sala de aula devem ser valorizadas.
Vejamos então a contribuição dos teóricos abaixo:
PAULO FREIRE: Um dos maiores pensadores do século XX e aquele que abriu as portas para uma educação transformadora. A grande inovação trazida por ele para seu método foi o diálogo, em que professor e aluno aprenderiam juntos, ao mesmo tempo, acabando com a escola autoritária e dando vida a uma nova escola, democrática e preparadora do homem para o mundo. “Um dos grandes pecados da escola é desconsiderar tudo com que a criança chega a ela. A escola decreta que antes dela não há nada”, dizia.
Para finalizar: “Só aprende aquele que se apropria do aprendido transformando-o em apreendido, com o que pode por isso mesmo, reinventá-lo; aquele que é capaz de aplicar o aprendido-apreendido a situações existentes concretas”
ENRIQUE DUSSEL: Todo o caminho percorrido pela Filosofia da Libertação, desposada por Enrique Dussel, indica a necessidade de superação da ordem posta, para a instituição de uma nova situação onde seja possível a inclusão do pobre, do assalariado, da mulher submissa ao marido da sociedade machista, visando uma ruptura com o modelo conhecido, tido como eurocêntrico e a criação de uma nova realidade. Para o aperfeiçoamento dessa ruptura, o OUTRO ou alter desempenha papel

8-Ciência e Religião - “O homem não pode libertar-se, se ele mesmo não protagonizar a sua história, se não toma sua existência em suas mãos”. Fiori (EP, 66).
A educação libertaria é um processo coletivo, ou individual, podendo ocorrer separado do processo de produção material de existência?
Marcia Souza: Wilhelm Reich dizia que “a família burguesa capitalista espelha e reproduz o Estado”. O mesmo se pode dizer das escolas onde também se pratica a pedagogia autoritária. Educadas dessa maneira, as crianças e os jovens tornam-se obedientes e submissos aos pais, aos professores e ao Estado. Nossos grupos institucionais garantem nossa interação na sociedade e refletem o que somos e como agimos. Somos seres individuais e juntos nos tornamos coletivos.
9-Ciência e Religião - Dussel em sua obra, como em Pedagogia do Oprimido, deixa claro que existe uma metodologia pedagógica “da dominação”, capaz de fazer o dominado introjetar a cultura imperial como única e, conseqüência, desvalorizar a própria cultura. A senhora concorda com esse ponto de vista?
Marcia Souza: Na obra Pedagogia do Oprimido, Freire destaca a revolução. Mas o que pode ser feito antes da revolução? Ele propõe a distinção entre “ação cultural” e “revolução cultural”. Para ele a ação cultural é desenvolvida em oposição à elite que controla o poder e a revolução cultural ocorre em completa harmonia com o regime revolucionário. A proposta de Freire é a noção de consciência crítica como conhecimento e prática de classe. É uma pedagogia da consciência. Em Pedagogia do Oprimido Freire enfatiza um aspecto fundamental no processo de organização política das classes sociais subordinadas: os elos entre a liderança revolucionária e as práticas das massas. Eu vejo cultura como produção, sabemos que povos que julgaram ser mais fortes dominaram e até exterminaram culturas com o etnocentrismo, que impunha a cultura do mais forte. Globalizados somos literalmente iguais, o que importa é a produção e não a predominância.
10-Ciência e Religião - Alguns pedagogos e cientistas em pedagogia, assim como também os técnicos dizem que a teoria freiriana dispensa os conteúdos escolares, a autoridade do educador ou a diretividade do processo. Como à senhora ver a sua teoria?
Marcia Souza: Vejo da seguinte maneira, se a Educação é um processo político, ela requer disciplina, organização e respeito. Freire via a educação como transformação e não contestou a organização do sistema escolar.  Lucia Alves de Sá acredita que haja pelo menos duas vertentes com as quais pode ler o pensamento pedagógico de Paulo Freire a fim de apreender o sentido da educação para a transformação. A primeira apontaria para a sua tentativa de superar todos os obstáculos contra-educativos existentes na nossa cultura, na nossa sociedade e em cada um de nós, tanto no âmbito temporal quanto no espacial. A outra analisaria o seu pensamento, tentando encontrar a originalidade do novo caminho proposto por ele.
11-Ciência e Religião - Na teoria dusseliana, em Freire e em Fiori, no sentido metafísico, a libertação não é ação fenomênica dentro do sistema?
Macia Souza: Não, porque vejo liberdade desta forma: tê-la é um valor, praticá-la é uma ação, utilizá-la é um direito, demonstrá-la é fazê-la acontecer... De uma maneira: é EDUCAÇÃO.
12-Ciência e Religião - A senhora concorda que em geral, os pedagogos e cientistas em pedagogia emperram com planejamento a mediação do sistema, sem conteúdo se preocupar no essencial, que é o objeto do próprio sistema?
Marcia Fátima: Não concordo, pois planejamento é um processo contínuo e dinâmico que consiste em um conjunto de ações intencionais, integradas, coordenadas e orientadas para tornar realidade um objetivo futuro. Muitas vezes nos deparamos com a realidade mais rápida do que os nossos objetivos e esquecemos que Educação é uma ação sistêmica e complexa. Já dizia Freire: “A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda”. E completo “freirianamente”: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.
Ninguém luta contra as forças que não compreende, cuja importância não mede,cujas formas e contornos não discerne”.  (Paulo Freire)
Obrigado a educadora, Macia Souza, por sua contribuição neste processo.  (Ciência e Religião)
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